Resposta à Carta Aberta de Miguel Ângelo

O ilusionista (e director do Museu da Magia) Miguel Ângelo publicou, na sua página do Facebook uma “Carta Aberta” (doravante designada CA) que me é dirigida, a qual, seguidamente, reproduzo.

Eis as considerações que tal CA me suscita.

1. O autor inicia a sua CA com a seguinte frase verdadeiramente lapidar: "Com algum espanto, ontem, domingo, 23 de fevereiro de 2025, recebi mais uma chamada - daquelas que, confesso, já não me surpreendem." (sublinhados meus). 

Dado que espanto é sinónimo de surpresa, é-me difícil compreender como é que houve espanto em algo que não o surpreendeu... Será razão para dizer que estamos perante um caso de esquizofrenia linguística?

2. Em seguida o autor da CA mimoseia-me com o apodo "Provedor". Como obviamente não sou provedor de coisa nenhuma, fica, para mim, claro o objectivo de tal forma de tratamento jocoso. Não irei retribuir na mesma moeda.

3. Em seguida a CA afirma "Tinha estado com Vossa Excelência e com a sua esposa no sábado (um dia antes da publicação do seu post) e, ainda que de forma breve, informei-o sobre o atraso do projeto. Por isso, estranhei o que escreveu poucas horas depois."

Sabem o que isto é? UMA MENTIRA!... Repito e reforço: UMA DESCARADA MENTIRA!...

Estivemos realmente juntos, por alguns momentos, no Mar Shopping, no final da actuação do Daniel Guedes (cerca das 22 horas), onde de facto me disse algo sobre o projecto em questão. No entanto, na sua ânsia de me pôr em xeque, partiu para o pressuposto que eu teria escrito o texto "E QUANDO OS MÁGICOS NOS ENGANAM?!?!?!"após tal encontro.

Ora, qualquer pessoa minimamente preocupada em analisar a verdade dos factos pode constatar que coloquei o post no meu blogue às 14h53m de 22 de Fevereiro de 2025 conforme mostram as imagens seguintes (que correspondem ao topo e ao fundo do post em questão):

E divulguei tal post na minha página de Facebook às 14h57m do mesmo dia como mostra a imagem seguinte:

Portanto o encontro que tive com o autor da CA foi cerca de sete horas depois de ter publicado o texto que tanto o amofinou.

Ainda neste ponto (e como nota de rodapé) registo como jocoso o tratamento por Vossa Excelência.

4. Vamos então ao cerne do assunto da CA: o post do meu blogue "E QUANDO OS MÁGICOS NOS ENGANAM?!?!?!" 

Em 16 de Fevereiro de 2024 foi anunciado um projecto Prémios da Magia Portugal - Museu da Magia 2024? Sim.

Em 22 de Fevereiro de 2025 (Data da publicação do meu texto) já tinha passado mais do que um ano sobre a publicação do anúncio? Sim.

Entretanto tinha havido algum esclarecimento subsequente? Não.

Escrevi alguma mentira? Não!

Será que, num país que conquistou a liberdade em Abril de 1974, eu não tenho a liberdade de criticar o que é público e publicado?

5. Em seguida o autor da CA entra num plano completamente diferente ao escrever "E aqui lhe deixo um recado, Jomaguy: deixe de ser tão azedo, descontraia e viva a vida um pouco melhor, respire fundo".

O Miguel Ângelo tem uma idade próxima da do meu filho, o que me permitiria olhar para ele, carinhosamente, como um "miúdo". Só que a MENTIRA desmascarada acima no ponto 3,  já só me permite olhar para ele como um "catraio". E de catraios eu não aceito recados! Entendido?

6. Mais adiante, na CA, pode ler-se: "Caso não sinta o Sr. José Manuel Guimarães (Jomaguy) Acabou neste preciso momento com o Projecto Prémios da Magia (algo em si muito usual, assim ditam as historias)".

O que dizer desta asserção? Em primeiro lugar parece que o Diretor do Museu da Magia andava à procura de uma desculpa para acabar com o projecto e acha que encontrou no meu texto uma boa desculpa... Simplesmente, RIDÍCULO!...

Mas pior do que afirmar que eu sou o causador de ele acabar com os Prémios Museu da Magia é insinuar qualquer coisa ao dizer "algo em si muito usual, assim ditam as histórias". Insinuar sem concretizar é ser, mais uma vez, catraio. Acho que todos gostaríamos de escutar as histórias que o Diretor do Museu da Magia tem andado ouvir e que, pelo conteúdo da CA, me levam a deduzir que é dos que "emprenham pelos ouvidos"!

7. Por fim pode ler-se, na CA, "Desde que criei o Museu da Magia, tenho sido alvo de ataques, fui excluído de eventos mágicos para não desagradar certos "compadres", tudo porque me recuso a alinhar com grupos tóxicos e interesses duvidosos. (Aquela velha maxima se não és por mim...)"

Como não sou organizador de eventos mágicos nem integro qualquer grupo, não entendo a razão de isto ser referido numa CA que me é dirigida. Será falta de coragem para redigir mais cartas abertas direccionadas para outros lados?

E (DE NOVO) O TEMA DO ENGANO...

O programa de televisão "Penn & Teller: Fool Us " é, seguramente, uma montra apetecível para muitos mágicos divulgarem o seu trabalho à "escala mundial".

Tal programa tem permitido apreciar actuações de muitos (e bons) mágicos. No entanto o objectivo (assumido) do programa é "ENGANAR" os anfitriões do mesmo, os conhecidos mágicos de Las Vegas Penn & Teller.

Convenhamos que é um objectivo questionável, pois "enganar" não é o primeiro objectivo de uma actuação de Ilusionismo. Por isso mesmo, têm passado pelo programa excelentes mágicos que realizam excelentes actuações, sem conseguirem obter o cobiçado galardão "F.U."...  O que não é de estranhar face ao manancial de conhecimento mágico que se julga ter sido acumulado pela dupla Penn & Teller.

Por outro lado também já vi actuações no programa que conquistaram o troféu "F.U." sem que, em nenhum momento, me tenham enganado. O que, eventualmente, me levou a duvidar do substancial conhecimento mágico dos anfitriões do programa.

Recentemente esteve em tal programa o mágico espanhol JUAN LUÍS RUBIALES. Realizou a excelente rotina de canivetes que pode ser vista aqui. Aprecio muito o trabalho de Rubiales e devo dizer que aquela rotina de canivetes é a melhor que alguma vez vi ao vivo. É uma rotina que adoro, mas que não me engana. 

Será que enganou Penn & Teller? Será que Penn & Teller nunca tiveram contacto com “NAVAJAS Y DALTONISMO” de Arturo de Ascanio, publicado em 1958? É que a incapacidade de ler espanhol não é desculpa, pois, em 1975, José de La Torre publicou a respectiva tradução em inglês com o título “ASCANIO’S WORLD OF KNIVES”...

Este caso é mais um daqueles que me leva a questionar a interpretação do nome do programa "Penn & Teller: Fool Us". 

Até parece que os dois pontos presentes no nome do programa caíram de "maduros" e que, agora, o nome é, simplesmente, "PENN & TELLER FOOL US"...

E QUANDO OS MÁGICOS NOS ENGANAM?!?!?!

Durante toda a minha vida de mágico tenho deparado, recorrentemente, com espectadores que afirmam não apreciar Ilusionismo (Magia) pois não gostam de ser enganados. E este tipo de reacção não acontece apenas por parte de espectadores anónimos… Por vezes são os apresentadores de programas de televisão ou jurados de concursos de talentos que verbalizam tal tipo de “reacção adversa”.

Tem sido difícil ao longo dos anos convencer tais espectadores que o objectivo de um ilusionista não é enganar o seu público mas sim criar ilusões que lhes permitam desfrutar a sensação do impossível e emocionar-se com ela. Muitos de nós (mágicos) tentamos fazê-lo na convicção de que “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.

"E quando os mágicos enganam mesmo?" é, certamente, a pergunta que, neste momento, invade o cérebro de muitos dos meus leitores.

Se considerarmos a publicidade daqueles que se deixam anunciar como "campeões do mundo" ou que se afirmam detentores de "óscares da magia", com certeza encontraremos muitos mais casos do que julgávamos possível. No entanto, não é objectivo deste meu post, abordar tais situações de "engano".

Vejamos uma situação que podemos classificar de "um engano mundial", quiçá, "um engano interplanetário".

Em 27 de Outubro de 2023, David Copperfield anunciou a sua nova Grande Ilusão: O DESAPARECIMENTO DA LUA!... (O anúncio pode ser visto aqui.) E com data prevista para Fevereiro de 2024!

Já passou mais do que um ano e a Lua ainda não desapareceu... E também nada mais foi dito sobre tal assunto... Não seria caso para admirar que houvesse portugueses a trabalhar em tal ilusão, pois, com a nossa capacidade de procrastinar, podemos prever que a Lua irá desaparecer (para todos os que leram tal notícia) lá para 2054!

Mas também podemos, à escala nacional, encontrar exemplos de anúncios (feitos com pompa e circunstância), cuja não concretização fica por esclarecer.

É o caso do anúncio feito, na sua página de Facebook, pelo Museu da Magia que seguidamente se reproduz.

Mais do que um ano se passou sobre a publicação do anúncio dos "Prémios da Magia Portugal - Museu da Magia 2024" e nada mais foi esclarecido quando ao recuo na atribuição dos mesmos.

Depois destes exemplos (e de muitos mais que poderiam ser elencados...) já não conseguirei ser veemente ao afirmar que os mágicos não enganam ninguém!

LANIDRACK & FATY - 50 ANOS DE MAGIA

Nas recentes comemorações do Dia Mundial do Mágico, o C.I.F (Clube Ilusionista Fenianos) homenageou um conhecido casal de ilusionistas (LANYDRACK & FATY), a propósito dos seus 50 anos de ligação à Arte Mágica.

Apesar de, por vezes, não ter apreciado a escolha de certas rotinas que LANYDRACK fez para compor alguns dos seus programas, reconheço-lhe um continuado trabalho esforçado em prol da Arte Mágica, durante todos este anos. 

E, qual cereja no topo do bolo, o facto de ter sido o responsável pela iniciação e formação inicial de sua filha (SOLANGE KARDINALY), fá-lo ainda mais merecedor, se necessário fosse, de tal homenagem.

Parabéns, LANIDRACK & FATY. 

No entanto, infelizmente, tal homenagem fica manchada pela própria placa que o C.I.F. lhe ofereceu. De facto, a utilização de uma imagem colorida (que é uma cópia descarada de um desenho - a preto e branco - do catálogo "MAGICORAMA 2 - Catalogue General", publicado por uma casa francesa especializada na venda de material para ilusionistas) para ilustrar um casal de mágicos, na minha opinião, só vem retirar brilho a tal homenagem. 

É precisamente desse catálogo, publicado em Outubro de 1975 pela MAYETTE MAGIE MODERNE, que reproduzo, com a devida vénia, a ilustração seguinte.

Infelizmente esta situação tem um amargo sabor a DÉJÀ VU, como podem verificar pela leitura do que aqui escrevi em 28 de Fevereiro de 2024.

A TRAVESSIA

A primeira travessia aérea do Atlântico Sul, concretizada, em 1922, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral é um feito que liga o nome de Portugal aos primórdios do desenvolvimento da aviação.

Tal feito está a ser lembrado pela RTP1 com a exibição da séria A TRAVESSIA. Mais informação sobre tal série pode ser vista aqui.

Desconheço se a ligação dos intrépidos aviadores à prática do Ilusionismo será abordada em tal série, mas parece-me oportuno relembrar a mesma.

Numa das crónicas sobre a viagem de regresso dos aviadores a Portugal, realizada por mar a bordo do navio PORTO, pode ler-se:

As noites passam-as, os dois, fazendo interessantes sortes de prestidigitação, que muito divertem os outros passageiros: Gago Coutinho, com cartas de jogar; Sacadura, com lenços e outro objectos. (sic)

Tal reportagem foi publicada na revista Ilustração Portuguesa nº 872 de 4 de Novembro de 1922. Seguidamente reproduzo, com a devida vénia, a página de tal publicação na qual consta a frase supracitada.

Esta informação foi publicada na edição de Dezembro de 1922 da revista francesa de ilusionismo LE PRESTIDIGITATEUR, nos termos que a imagem seguinte mostra.