"O processo criativo de um mágico é muito mais aborrecido do que se possa imaginar" é o título do episódio do podcast CONVERSAS DE FIM DE TARDE dedicado a Helder Guimarães.
Para ser ouvido aqui.
ASSIM VAI A MAGIA (ILUSIONISMO)
"O processo criativo de um mágico é muito mais aborrecido do que se possa imaginar" é o título do episódio do podcast CONVERSAS DE FIM DE TARDE dedicado a Helder Guimarães.
Para ser ouvido aqui.
(A propósito do evento LISBOA MÁGICA 2021)
Em 17 de Agosto p.p. coloquei, no Facebook, um post com o seguinte conteúdo:
“Assisti a espectáculos de algumas das anteriores edições do evento LISBOA MÁGICA e, numa situação normal, iria colocar o meu “gosto” na divulgação do evento deste ano.
Mas não estamos numa situação normal… Estamos numa situação de PANDEMIA!… E esta situação levou a uma crise no mundo do espectáculo com imensos artistas e técnicos a passarem as dificuldades que conhecemos… e as que desconhecemos!
É portanto para mim inconcebível que a organização não tenha tido a desejada sensibilidade para apoiar os ilusionistas profissionais portugueses. Não seria possível, no leque dos 15 mágicos do evento, incluir 5 portugueses?…
Quando, em tantas outras situações, se fala em quotas de preenchimento de lugares, será uma aberração desejar ter 33% de mágicos portugueses no elenco?
E, se pensarmos que o evento é pago por uma autarquia, mais “revoltados” deveremos ficar por ver o erário público a contribuir para dar trabalho a artistas estrangeiros em detrimento de portugueses.
Qual seria a reação geral dos media se, de repente, a Câmara Municipal de Lisboa decidisse, em época de PANDEMIA, comemorar uma qualquer data festiva contratando um concerto de um qualquer artista estrangeiro, afastando as opções Pedro Abrunhosa, Marisa, Toni Carreira, Rui Veloso ou tantos outros?
E não me venham com a “treta” de que em Portugal não existem mágicos especialistas em “Magia de Rua”… É que, para esse peditório, já dei!…”
Hoje, vi o Luís de Matos, no programa Esta Manhã (TVI), ser entrevistado sobre o LISBOA MÁGICA 2021 e, a certa altura pareceu querer, de alguma maneira, justificar os mágicos contratados para o evento com as seguintes palavras:
“[…] os mágicos, um dos aspectos mais curiosos é o facto de que fazem parte de um grupo de artistas cuja abordagem, nesta Arte, é, seguramente, uma das mais interessantes, na medida em que… Por exemplo, quando eu actuo num teatro, as pessoas compram bilhete, vão assistir, mas, se não gostarem, não saem a meio, não é? Pronto… Quando os mágicos actuam na rua, eles têm que, permanentemente, estar a conquistar os transeuntes, a mantê-los durante… a duração do espectáculo, fazendo com que não percam o interesse … (é quase como uma audiência de televisão)… e ainda têm que garantir que, no final, elas não se vão embora, sem contribuir financeiramente… para o entretenimento… Este não é o caso… Isso não acontece aqui… Os espectáculos são gratuitos…” (sic)
Esteve muito bem o Luís de Matos a caracterizar a “Magia de Rua”, mas acontece que o evento LISBOA MÁGICA 2021 não é um festival de “Magia de Rua”. Na realidade, estando cada um dos espectáculos programados para uma determinada hora, num local específico, os mágicos não têm que fazer o mais difícil da “Magia de Rua” que é fazer parar pessoas que transitam na via pública sem qualquer intenção de assistirem a um espectáculo e “construir um público” a partir do nada. No caso do LISBOA MÁGICA (Nota: eu assisti a algumas edições pré-pandemia), alguns minutos antes de cada espectáculo começar já há um público numeroso (atraído pela publicidade ao evento), o qual, naturalmente, vai sendo engrossado por transeuntes curiosos que param para espreitar e ficam.
Portanto, ficamos cientes que o LISBOA MÁGICA não é um evento de “Magia de Rua”, mas sim um evento de “Magia na Rua”, onde cabem perfeitamente os “especialistas” de “Magia de Rua”, mas também os que não o são.
Infelizmente, parece que só não cabem mágicos portugueses… É interessante pensar em como, para alguns, é fácil reivindicar apoios para a cultura, mas não conseguem apoiar os mágicos portugueses quando dispõem de tal possibilidade…
O nome de António Ramos Pinto é citado em diversos escritos de Martins Oliveira, com referências bastante elogiosas, de que é exemplo o artigo publicado em 1925 na revista “O Illusionista” que seguidamente reproduzo:
No livro “Adriano Ramos Pinto - Vinhos e Arte” (Edições Ramos Pinto) é contada a história da Ramos Pinto, sendo pontualmente referenciada a ligação de António Ramos Pinto à Arte do ilusionismo. Vejamos alguns excertos de tais referências.
A página 50 é encimada pelo seguinte título:
E nessa página pode ler-se:
"Por sua vez, António Ramos Pinto dedicava-se ao ilusionismo com o seu irmão José, o mais velho, com quem formou o duo Irmãos Ramenport, de que existe uma curiosa fotografia, uma foto montagem e um folheto intitulado Souvenir, datado de 15 de julho de 1877, tinha então António vinte e três anos e o irmão vinte e cinco. Em quadras, entre o popular e o galante, passam da alusão dos tempos antigos de bruxarias e feitiços para os tempos da “luz do progresso” em que as feiticeiras são agora as senhoras que assistem aos seus espectáculos. O ilusionismo, a prestidigitação e outras artes mágicas eram então muito apreciadas no Porto e não havia sarau ou récita onde tais números não fossem apresentados. Desenvolveu assim António a arte de encantar a assistência através da fantasia, ou dito de outro modo, cedo aprendeu que o público gostava de se deixar encantar com arte, com graça, com talento." (sic)
Na mesma página é apresentada uma fotografia do duo Irmãos Ramenport, a qual, seguidamente, reproduzo com a devida vénia.
A referência ao nome Ramenport adoptado pela dupla de mágicos remete para uma nota final explicativa. Segunda tal nota, a origem do nome Ramenport seria a seguinte:
“Esta aparentemente estranha denominação terá a ver com a palavra japonesa ramen, que designa um alimento de origem chinesa composto por filamentos longos de massa alimentícia com ervas e legumes temperados com carne de porco ou peixe de água doce e que se vendia nas tabernas dos portos, daí o ramenport, cf. Wikipédia…, 2011.05.11. Ora também a cidade do Porto, por esta época, dedicou especial interesse aos orientalismos e a vários exotismos; cf. Orientalismo em Portugal…, 199; Guimarães, 2008a, p. 169 e seguintes, e Graça, 2008, p. 185 e seguintes.” (sic)
Julgo que a explicação apresentada para o nome Ramenport é pouco credível. Na minha perspectiva a explicação será outra bem diferente. Na época faziam algum furor como ilusionistas os “Davenport Brothers” (https://en.wikipedia.org/wiki/Davenport_brothers), os quais eram tema de notícias publicadas e, portanto, de conversa em reuniões sociais de todo o mundo. Certamente, Portugal não seria excepção. Portanto, na minha opinião, terá sido o nome Davenport a servir de inspiração ao nome adoptado por António e José, que se limitaram a substituir o DAV (de Davenport) por RAM (do seu apelido Ramos). Aliás foi, certamente, esta semelhança dos nomes que levou Martins Oliveira a designar erradamente, no artigo da revista O Illusionista acima reproduzido, o duo como Ravenport.
Seguidamente reproduzo, com a devida vénia, o folheto supracitado.
Numa outra página do livro “Adriano Ramos Pinto - Vinhos e Arte” (Edições Ramos Pinto) está expresso o seguinte:
"António era diferente. Aparentemente mais fechado com outros, incluindo os familiares, realizava também grandes festas na sua casa de S. Roque no dia 1 de janeiro nas quais, depois do jantar exibia os seus dotes de prestidigitador, atividade que nunca abandonou." (sic)
Esta última parte entra em contradição com o que vem expresso no último parágrafo do artigo de O Illusionista. Fica a dúvida, à espera que a descoberta de novos documentos possa vir dissipar a mesma.
"Creating Impossible Magic Experiences" é título do episódio do podcast DISCOURSE IN MAGIC dedicado a HELDER GUIMARÃES.
Para ser ouvido aqui.
Faz hoje 15 anos que Helder Guimarães subiu ao palco do Victoria Hall do Centro de Congressos de Estocolmo (Stockholmsmässan) para participar na FINALE CLOSE-UP CONTEST da FISM 2006. E quando o fez já sabia que se sagrara Campeão Mundial de Magia com Cartas, pois era o único concorrente apurado em tão difícil disciplina. Foi, portanto, o primeiro português a obter um título de Campeão Mundial de Magia e, até hoje, continua a ser o único português a poder ostentar tão cobiçado galardão.
Foi aí que o mundo do ilusionismo o descobriu, pois, até então, o Helder era um nome apenas reconhecido na Península Ibérica. E, nestes 15 anos de percurso sustentado, o Helder juntou ao título de Campeão Mundial de Magia outros galardões muito relevantes como, por exemplo, o título de Parlour Magician of the Year que lhe foi outorgado pela Academy of Magical Arts de Hollywood (Magic Castle) em dois anos consecutivos (2011 e 2012).
Nestes 15 anos pós-FISM 2006 Helder criou e apresentou diversos espectáculos públicos em que o sucesso se mediu pelas sucessivas sessões esgotadas e pelos prolongamentos das temporadas inicialmente previstas. Assim aconteceu, por exemplo. com “NOTHING TO HIDE”, “BORROWED TIME”, “VERSO”, “RETRATO CLANDESTINO” e “INVISIBLE TANGO”.
E quando, após a prolongada carreira de lotações esgotadas de “INVISIBLE TANGO” em Los Angeles (Geffen Playhouse), Helder estava a negociar a apresentação de tal espectáculo em Nova Iorque, tudo ficou adiado sine die por força da pandemia COVID-19. Mas Helder reagiu rapidamente e criou o espectáculo online "THE PRESENT", com o qual realizou mais do que 250 apresentações.
Foi precisamente o êxito deste projecto inovador que contribuiu para obter o reconhecimento da Associação Portuguesa de Ilusionismo que lhe atribuíu o TROFÉU API 2020, o qual se foi juntar ao TROFÉU API 2006 que granjeara com a supracitada vitória no Campeonato Mundial de Magia 2006.
Mas o valor do espectáculo “THE PRESENT” não foi reconhecido apenas a nível nacional, pois mais dois importantes prémios vieram enriquecer um currículo invejável:
- The Webby Awards 2021 (Ver aqui)
- 2021 Allan Slaight Award na categoria Sharing Wonder (Ver aqui). Este é um prémio que é tido em grande conta no meio mágico, bastando, para tal, verificar que, em 2020, o vencedor na mesma categoria tinha sido Derren Brown.
Foram 15 anos preenchidos com muitos sucessos. Venham mais quinze!