Completam-se hoje 25 anos sobre a morte repentina de José Carlos Gomes, conhecido no meio mágico pelo pseudónimo HORTINY. Ele próprio explica a origem de tal nome artístico na biografia que integra o seu livro COCKTAIL MAGIC.
José Carlos Gomes nasceu em Gouveia a 1 de Agosto de 1942 e muito cedo "emigrou" para Angola. Foi aí que, em 1958, nasceu o "mágico Hortiny", numa festa de escuteiros. A partir daí desdobrou-se em inúmeros espectáculos e a sua veia artística explorou outros campos como, por exemplo, o teatro e rádio. Na área do ilusionismo ia construindo os aparelhos que necessitava para as suas ilusões antes de "descobrir" a existência de Martins Oliveira e da Academia Portuguesa de Ilusionismo, da qual passou a ser cliente.
Em 1975 regressou a Portugal continental, passando a residir em Coimbra. Em 1977, puxado pelo Fausto Caniceiro da Costa, participou no Festival Mágico da Figueira da Foz e, a partir desse momento, passou a ser um elemento muito participativo no âmbito da comunidade mágica portuguesa. E tal participação recrudesceu, a partir de 1979, com a criação do seu "HORTINY - MÃOS MÁGICAS ESTÚDIO"
Hortiny foi um mágico eclético (praticava Magia Geral, Grandes Ilusões, Micromagia, Cartomagia e Ventriloquia) premiado em diversos concursos mágicos nacionais e internacionais. Além das vertentes de actuante e "magic dealer", Hortiny destacou-se pela criatividade e originalidade com que procurava dotar os seus trabalhos e pela sua vontade de "remar contra a maré" e publicar livros e revistas sobre magia em português, mesmo sabendo que, à partida, tais projectos eram deficitários.
Como escreveu o saudoso Dr. Jorge Teixeira no Prefácio do livro supracitado:
"Pode gostar-se ou não de Hortiny. No entanto, há um facto que ninguém ignora: A PAIXÃO deste homem pela MAGIA.
Haverá alguns que não concordam com muitas das suas posições e opiniões acerca da nossa arte. Mas há um aspecto insofismável a não esquecer. Hortiny tem sido um trabalhador incansável, produzindo sem parar literatura mágica não só de carácter opinativo ou de magazine, mas também análise e investigação." (sic)
É precisamente esta vertente de Hortiny (a de escritor/publicador) que pretendo relevar, ao listar as seguintes publicações (que foram da sua responsabilidade editorial):
- Cartas Rasgadas e Outros Buracos (Ano: 1986)
- Top Hat Magic - Revista (5 exemplares publicados entre 1986 e 1987)
- Colectânea Mágica (Ano: 1987)
- Cocktail Magic (Ano: 1988)
- Da Carta Dupla (Ano: 1989)
- Outros Mágicos Rumos - Magazine (5 exemplares publicados entre 1991 e 1993)
- Ilusões - Revista (3 exemplares publicados entre 1994 e 1995)
A par das publicações referidas, Hortiny aproveitava a produção de circulares informativas do seu "Mãos Mágicas Estúdio" para as enriquecer com reportagens, opiniões e críticas. Na década 80 esse espaço de opinião e crítica tinha uma presença regular e intitulava-se "A PALAVRA CONTRA O MURO".
Por tudo o que atrás foi dito, percebe-se que a morte de Hortiny aos 53 anos (faleceu em 3 de Fevereiro de 1996) foi prematura, pois ainda havia muito a esperar do seu espírito empreendedor. As circunstâncias da morte de Hortiny estão descritas no artigo intitulado "Hortiny morreu" publicado na Folha Mágica (Boletim Informativo do C.I.F.) de Janeiro/Fevereiro de 1996.
Em tal artigo é expresso que, no final do espectáculo, "Hortiny estava particularmente feliz" (sic). Mas estaria totalmente feliz? Teria sido uma noite perfeita? Não foi!
25 anos passaram e há memórias que não se apagaram. E, no final da 1ª parte do espectáculo, houve um momento em que, nos bastidores, o Hortiny ficou particularmente agastado. Aconteceu na altura em que Luís de Matos proferiu palavras de agradecimento ao receber o galardão "Mágico do Ano". Nesse breve discurso, Luís de Matos agradeceu a inúmeras pessoas, mas "esqueceu-se" de referir Hortiny.
Para quem se referiu a Luís de Matos como 'o "meu filho" Luís' (Ver Outros Mágicos Rumos nº2 - Pág.4) e escreveu 'Não exagero quando digo que ensinei mais ao Luís que a meu filho Bruno' (Ver Outros Mágicos Rumos nº5 - Pág.31) de certeza que a ingratidão de tal esquecimento tocou bem fundo.
Por tudo o que aqui foi escrito (e pelo muito mais que poderia ser) Hortiny, foi, sem dúvida, um mágico de relevo no panorama mágico português, no último quartel do século XX. A sua morte prematura deixou o ilusionismo português mais pobre. Como forma de singela homenagem deixo seguidamente o video da sua participação televisiva no programa Nunca Mais É Sábado.