terça-feira, março 30, 2021

A vida efémera da S.P.I.


Em meados do século passado, houve uma tentativa de criar uma associação de mágicos em Portugal. Chamou-se Sociedade Portuguesa de Ilusionismo e teve vida efémera pois o Ministério da Educação Nacional considerou que o objectivo consagrado nos respectivos estatutos não constituía "expressão de cultura digna de ser considerada" (sic).


Toda a vida da Sociedade Portuguesa de Ilusionismo está resumida no número único do seu boletim O Tesouro da Magia, publicado em Abril de 1957.


Não é irrelevante, para esta decisão do Ministério da Educação Nacional, o regime político vigente em Portugal. No entanto é curioso verificar que, na Alemanha, em 1937 (portanto já com Hitler no poder), era permitida a comemoração do 25º aniversário do Magischer Zirkel com uma larga reunião de mágicos como o video seguinte documenta.

25 Jahre Magischer Zirkel


sexta-feira, março 19, 2021

JOFERK


JOFERK é o nome artístico do conceituado ilusionista português José Fernando Pacheco Coimbra. Nasceu no Porto em 22 de Março de 1939, filho de José Pinheiro Coimbra e Ana da Rocha Pacheco. Faleceu, igualmente no Porto, em 19 de Março de 2020.

Uma perspectiva mais alargada do seu percurso de vida pode ser obtida com a leitura do documento História de vida de José Fernando Pacheco Coimbra.

Percurso mágico

Em 1960 filiou-se como sócio do CIF (Clube Ilusionista Fenianos / Secção de Ilusionismo do Clube Fenianos Portuenses) onde, segundo as suas próprias palavras, teve na aprendizagem de ilusionismo os seguintes mestres: Professor Marcel, Eduardo Franco e Dr. Pires de Carvalho.

Em 1961 realizou a sua primeira actuação pública. No Boletim MAGIA (CIF) nº 11 (Setembro 1961) é dada notícia dessa primeira actuação de JOFERC (exactamente com esta grafia) no âmbito dos espectáculos promovidos pela agremiação.

Em 1962, culminando a sua reconhecida evolução como ilusionista, é nomeado responsável das escolas para principiantes do CIF. No Boletim MAGIA (CIF) nº 13 (Março 1962) é noticiada tal nomeação. No mesmo boletim já aparece a grafia JOFERK quando são noticiadas as suas actuações em espectáculo promovidos pelo CIF.

Em Junho de 1963, no Boletim MAGIA (CIF) nº 18, aparece a primeira colaboração técnica escrita por JOFERK. No Boletim MAGIA (CIF) nº 20 (Dezembro 1963) é noticiada a atribuição da Insígnia de Competência do CIF a JOFERK.

Em 1965 integra, pela primeira vez, os Corpos Dirigentes do CIF, na qualidade de Tesoureiro, conforme notícia publicada no Boletim MAGIA (CIF) nº 24 (Dezembro 1964). A partir daqui Fernando Coimbra (JOFERK) exerceu diversos cargos dirigentes no CIF e, igualmente, no Clube Fenianos Portuenses, do qual chegou a ser Presidente da Direcção e Presidente da Assembleia Geral.

Em 1973, no colóquio realizado no âmbito do 2º Festival Mágico da Figueira da Foz, apresentou uma comunicação intitulada “Charlatanismo, falsos títulos e a sua aceitação por quem superintende no mundo do espectáculo”, demonstrando que, a par da perfeição da técnica mágica, também tinha preocupação com a ética que deveria ser adoptada pelos ilusionistas.

A sua constante vontade de aprender levou-o a ser um participante assíduo de congressos e festivais de ilusionismo, destacando-se a sua participação nos seguintes Congressos Mundiais de Magia FISM:

1973 – Paris
1976 – Viena
1979 – Bruxelas
1982 – Lausanne
1985 – Madrid
1988 – Haia
2000 – Lisboa
2006 – Estocolmo

Em alguns destes congressos esteve na qualidade de delegado oficial do CIF.

Foi artista convidado de inúmeros festivais e congressos de ilusionismo e organizador de diversos eventos mágicos. Estava sempre disponível para colaborar (como organizador ou actuante) em eventos que tivessem o objectivo de divulgar e dignificar a arte mágica. Também foi membro do júri em diversos concursos de ilusionismo, de que é exemplo o Magicvalongo.

Era um amador de ilusionismo (porque amava a Arte Mágica), mas foi, igualmente, ilusionista profissional em part-time, com inúmeras actuações em todo o país, das quais se destacam as resultantes dos sucessivos contratos nos Casinos de Espinho, da Póvoa do Varzim, da Figueira da Foz e do Algarve.

Prémios e galardões

Os prémios e galardões obtidos em ilusionismo, como em qualquer outra actividade, não têm um valor absoluto, mas apenas um valor relativo, função do tempo e local a que se reportam. No entanto não deixam de ser pontos de referência de um percurso.

Seguidamente se apresentam os prémios e galardões obtidos por JOFERK.

1965 – Torneio de S. João Bosco (realizado no Porto)

1º prémio

1966 – Festival Mágico Internacional da Figueira da Foz

4º prémio – Manipulação
3º prémio – Magia Geral
Melhor mágico portuense

1973 – 2º Festival Mágico da Figueira da Foz

1º prémio – Magia Geral
3º prémio – Cartomagia (de mesa)

1975 – 3º Festival Mágico da Figueira da Foz

1º prémio – Magia Geral
1º prémio – Cartomagia
4º prémio – Invenção
Taça Simpatia (por votação dos participantes)

1977 – 4º Festival Mágico da Figueira da Foz

1º prémio – Magia Geral
1º prémio – Magia Cómica
2º prémio – Cartomagia
1º prémio – Micromagia
4º e 9º prémios – Invenção
1º prémio – Grandes Ilusões
1º prémio – Luz Negra (integrante do grupo mágico Aladinos)

1981 – XI Congreso Mágico Nacional (Espanha - Santander)

Micromagia – 3º prémio

1982 – 6º Festival Mágico da Figueira da Foz

1º prémio – Magia Geral

1986 – 7º Festival Mágico da Figueira da Foz

2º prémio – Magia Geral
2º prémio – Micromagia



Um ano sem Joferk…


Completa-se hoje um ano sobre a morte de Fernando Coimbra e a saudade permanece em todos os que com ele conviveram. Durante os últimos 11 meses coloquei, em posts do Facebook, alguns documentos para o lembrar. 

Pareceu-me apropriado, na passagem do 1º aniversário do seu falecimentofazer algo diferente para o homenagear. Neste contexto surgiu-me a ideia de criar uma página na Wikipedia para juntar o nome de Joferk aos outros “Ilusionistas de Portugal” aí referenciados. Seria um espaço onde outros contributos poderiam ser acrescentados, de forma a perpetuar a memória do Coimbra numa biografia pública, acessível às novas gerações de mágicos portugueses.

Infelizmente a Wikipedia não me permitiu tal criação, conforme se pode ver pela imagem que, seguidamente, reproduzo.


Questiono-me sobre quais serão mesmo os critérios da Wikipedia quando verifico o nome de certos ilusionistas que “merecem” estar incluídos na mesma.

Perante a impossibilidade de concretizar a criação da página Joferk na Wikipedia, publicarei no próximo post deste blogue o conteúdo com que iria nascer tal página.


sábado, março 06, 2021

De quem será a culpa?



Neste post do Manuel Luís Goucha (colocado no Facebook) o que mais me chamou a atenção foi a frase entre parênteses: "lá vai tempo em que os artistas eram pagos e com toda a justeza já que esse é o seu trabalho" (sic).

E fiz a mim mesmo a seguinte pergunta: "De quem será a culpa?"

E fui analisando várias hipóteses de resposta...

Será culpa do apresentador do(s) programa(s)?... Parece-me que não. O apresentador faz o seu trabalho que é apresentar e nada tem a ver com a contratação de artistas.

Será culpa da produção do(s) programa(s)?... Parece-me que não. Quem no seu perfeito juízo iria pagar por um produto/serviço quando pode dispor de um produto/serviço similar gratuitamente? É evidente que, caso um produtor de TV tal fizesse, arriscava-se a ser despedido com justa causa.

Será culpa do artista que aceita tal situação? Dado que nenhuma das anteriores hipóteses teve resposta positiva, só me resta responder com um SIM a esta terceira hipótese.

Já pensaram que se NENHUM cantor (ou cozinheiro ou ilusionista ou comediante, etc) aceitasse participar nesses programas de TV, o respectivo apresentador teria que estar 2 ou 3 horas a "encher chouriços"? Ou talvez fosse despedido, pois ninguém precisa de um "motorista" para "conduzir um autocarro" quando ele está vazio!

Talvez seja necessário que apareça um novo "Francisco José" para "pôr o dedo na ferida" como foi feito em 1964, conforme se lê aqui.