A notícia apareceu-me de chofre num post partilhado no Facebook: faleceu José Fernando Coimbra... Nunca ninguém está preparado para a partida de um amigo com quem se partilhou tantos e tantos momentos mágicos!
Na minha opinião, o Coimbra foi o ilusionista nortenho de mais relevo da sua geração. O seu “savoir-faire” e o seu talento inato para a magia mereceram, sempre, uma quase unanimidade elogiosa por parte dos seus confrades mágicos de norte a sul do país. E a sua vontade de ajudar os “aspirantes a mágicos” que apareciam foi, sempre, inexcedível. Por vezes prejudicava-se a si próprio para ajudar os outros. Grande HOMEM... Mais ainda do que grande MÁGICO!
E o Coimbra nunca reivindicava para si próprio os louros das iniciativas que liderava ou das ideias que lançava para outros brilharem. O Coimbra pode mesmo ser considerado primeiro responsável por haver, em toda a história da FISM, um Campeão Mundial de Magia de nacionalidade portuguesa. De facto, se o Coimbra não me tivesse incutido o gosto pela magia de proximidade, nomeadamente pelos truques com cartas, eu nunca teria podido transmitir tal gosto ao meu filho. Seguidamente transcrevo alguns excertos do meu livrinho “25 ANOS MAGICANDO...”, nos quais é possível ter uma noção da importância que sempre atribuí ao MESTRE JOFERK.
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Creio que não falhei a presença num único desses espectáculos [Pica-Pau], [...]. Foi, nesse programa, que adoptei o meu primeiro ídolo no âmbito do Ilusionismo. Adivinham de quem se tratava? Se responderam JOFERK, acertaram.
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Esse espectáculo que, inicialmente, estava previsto ser integrado, apenas, por artistas amadores principiantes, acabou por registar a presença de vários artistas consagrados, entre os quais aquele ilusionista que era o meu ídolo: JOFERK. Imaginem os sentimentos contraditórios que então me assaltaram: por um lado o júbilo de ir conhecer, pessoalmente, aquele mágico que considerava como modelo de referência e por outro lado o receio de ver a minha actuação menos apreciada ao estar sujeita a comparação com tão excelente ilusionista.
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Como era habitual no final de tal tipo de espectáculo houve um convívio entre os artistas intervenientes e foi aí que me apaixonei pelo... close-up. Foi decididamente um caso de amor à primeira vista fruto de uma impecável exibição informal de JOFERK, de que ainda recordo o “Chop Cup” e a “Carta Polaroid”. O que aí presenciei em cartomagia nada tinha a ver com os enfadonhos truques de cartas que, até essa altura, se haviam cruzado comigo nas minhas leituras mágicas. Também o JOFERK me convidou a aparecer no CIF, depois de passar o Verão.
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A partir do último trimestre de 1972, sempre que os estudos permitiam, aparecia nos Fenianos e na respectiva filial de Mouzinho da Silveira: A Fogueira das Meias. Atravessei uma fase de descoberta do Ilusionismo e aprendizagem constante em que o contributo do Coimbra foi, como sempre reconheci, fundamental.
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A partir de hoje, com a partida do Coimbra, a Magia portuguesa fica, irremediavelmente, mais pobre.
PAZ À SUA ALMA.