sábado, maio 30, 2020
PENSAMENTO DO DIA...
Um vigarista é e será sempre um vigarista!... No entanto se lhe dermos ouvidos, vai conseguir contar-nos uma história capaz de "fazer chorar as pedras da calçada"... Com um pouco de jeito, no final, ainda lhe vamos ficar a dever dinheiro!...
OS PALERMAS DA SILVA
(Nota introdutória: Com o meu pedido de desculpas, por falta de melhor inspiração, a todos os meus amigos de apelido Silva)
Durante muito tempo a taxinomia da palermice dividia o grupo dos palermas em dois sub-grupos cuja nomenclatura era “Palermas Estúpidos” e “Palermas Ignorantes”. E era fácil distingui-los, no dia a dia.
Portanto havia os palermas cuja palermice vinha à tona quando o seu QI não lhes permitia ser outra coisa senão palermas e havia os outros, os que eram palermas apenas porque a respectiva ignorância acumulada em doses industriais ao longo de anos os levava, também, para o campo imenso da palermice.
O advento da internet e a disseminação das redes sociais levou ao aparecimento de um novo sub-grupo de palermas. Não são “Palermas Estúpidos”, pois o seu QI é elevado, nem são “Palermas Ignorantes”, pois são detentores de amplos conhecimentos sobre as mais diversas matérias.
Não existe um verdadeiro nome para este terceiro sub-grupo de palermas, pois chamar-lhes, simplesmente, “Palermas” é demasiado redutor quanto às inúmeras palermices que proferem e preconizam. E tais palermices não têm nada de simplicidade... Bem pelo contrário!
Como tal sub-grupo está em clara fase de crescimento, acho bem encontrar uma designação com que possamos referi-los sem ambiguidade. E a minha sugestão é: “Palermas da Silva”.
“Porquê “Palermas da Silva”?” é provavelmente a pergunta que, neste momento, vos vem à cabeça. Ou não. Mesmo assim eu explico...
Em todos os sub-grupos anteriormente existentes desta elaborada taxinomia, “Palermas” funciona como nome próprio, sendo “Estúpidos” e “Ignorantes” os respectivos apelidos. Importava, pois, encontrar um apelido que desse uma ideia de grande disseminação e vulgaridade. Ora, desde que me contaram a anedota do Silva dos plásticos, ficou, em mim, enraizada a ideia que o apelido mais comum e vulgar, em português, é Silva. Outros apelidos há (como Costa ou Ferreira, por exemplo) que podem perfeitamente pedir meças a Silva no que se refere a disseminação e vulgaridade. Mas a minha sugestão vai mesmo para “Palermas da Silva”.
Exemplos de palermices de alguns “Palermas da Silva”:
- Tanto dizem que a internet já existia há 60 e tal anos como dizem que estava pouco divulgada há uma dúzia de anos;
- Não sabem ler o que está escrito;
- Distorcem, com objectivos pouco claros, aquilo que outros escrevem;
- Acham normal ter opinião sobre uma pessoa através daquilo que o respectivo pai escreve.
Enfim, neste mundo global em que vivemos, temos que levar com os “Palermas da Silva” que nos calham na rifa!
P.S.: Este texto não está directamente ligado ao tema de blogue que é ilusionismo. No entanto a existência de inúmeros palermas inseridos no mundo da magia, torna recomendável a publicação do mesmo aqui.
sexta-feira, maio 29, 2020
O TRILEMA...
Continuei a tomar, calmamente, o meu cimbalino, enquanto lia algumas das últimas graçolas que certos primatas de coluna vertebral bastante curva por lá escrevem... E o que eu me rio interiormente com tanto dislate que leio!...
Até encontrei um grupo de Facebook, em que um membro pedia ao administrador do grupo para eliminar um post que outro membro colocara!... Pensar que, 46 anos após o 25 de Abril, há gente a solicitar o “lápis azul” deixa-me arrepiado... e MUITO TRISTE!
De repente, um timbre de voz que bem conheço, fez-me voltar ao PRESENTE, em que a DEMOCRACIA existe para bem de todos... Mesmo daqueles que gostariam de acabar com ela! O Serafim chegara e estava a sentar-se na mesa contígua à do Afonso.
[...]
- Bons olhos te vejam, Serafim – saudou Afonso – Estava a ver que já não aparecias hoje.
- Tu parece que não me conheces – respondeu Serafim – Eu adoro estes nossos encontros e só faltaria por um motivo de força maior, o que não é o caso.
Após um breve pausa para saborear o primeiro gole do café, que o empregado entretanto trouxera a pedido de Afonso, Serafim continuou:
- Desculpa lá o atraso, Afonso... Mas hoje, de manhã, vi uma notícia na CMTV sobre uma situação protagonizada por um cozinheiro, ao qual a jornalista apelidou de vigarista. E, com a história que foi contada, o termo vigarista pareceu-me pouco adequado... Por isso estive embrenhado a pesquisar em vários dicionários de língua portuguesa...
Afonso interrompeu o seu amigo, dizendo:
- Desculpa lá, Serafim, estou a leste desse assunto... Não queres fazer um resumo do caso, para eu conseguir acompanhar-te?
Serafim não se fez rogado e adiantou:
- O caso descreve-se em meia dúzia de palavras.... Um cozinheiro de renome internacional de nome Simon criou uma receita de bacalhau inovadora... Não, Afonso, não olhes para mim com essa cara pois não foi o Bacalhau à Luís de Matos... Chamou-lhe Bacalhau à Simon e partilhou, gratuitamente, a respectiva receita para download na respectiva página Web...
- Foi simpático e altruísta, esse tal Simon – comentou Afonso.
Serafim continuou:
- Tens toda a razão, Afonso... Mas apareceu um cozinheiro português, de nome Alexandre, que achou que podia ganhar um dinheirito com essa receita e tratou de imprimir tal receita e vendê-la a 15 dólares...
- Ahhhhhhhh – exclamou Afonso – Então foi esse cozinheiro Alexandre que a jornalista chamou vigarista, deduzo eu.
- Exactamente – confirmou Serafim – E eu acho que seria mais lógico chamar-lhe oportunista...
- Ou “chico-esperto” – alvitrou Afonso.
- Sim, claro – anuiu, de imediato, Serafim – De qualquer maneira estaremos de acordo que quem assim procede não é muito recomendável... Certo, Afonso?
- Totalmente de acordo, meu caro Serafim! – respondeu Afonso, sem hesitação.
Afonso respirou fundo e olhou para o céu, como que agradecendo a qualquer divindade celeste o facto de, finalmente, haver um assunto em que estava totalmente de acordo com o seu amigo Serafim. Este esboçava um sorriso que parecia querer transmitir algo mais ao seu amigo. Sem reparar em tal sorriso, Afonso não pode deixar de verbalizar os seus pensamentos:
- Sabes, Serafim... Fico contente por hoje termos encontrado um assunto em que estamos totalmente de acordo...
- Claro que estamos – interrompeu Serafim – E sabes porquê, Afonso?... Porque não estamos a falar de ilusionismo!
Afonso ficou estupefacto e respondeu:
- É mesmo... Nem tinha reparado nisso... E nós que só costumamos falar de temas de magia...
Com um ar enigmático, Serafim contrapôs:
- Se calhar até estivemos...
Seguiu-se um silêncio, durante o qual Afonso tentava dar sentido àquela frase enigmática do amigo, o qual se mantinha impávido e sereno, aguardando a inevitável pergunta de Afonso. Por fim este não se conteve e disparou:
- Agora vais explicar-me essa treta bem explicadinha, pois não estou a entender nada de nada...
Sem fazer esperar o amigo, Serafim respondeu:
- Ok, Afonso, vou esclarecer-te porque não quero que fiques na ignorância... O que acabo de te contar é uma metáfora e não mais do que isso... Tive medo que, se te falasse no caso real, com os verdadeiros protagonistas do meio mágico, tu começasses a dar desculpas esfarrapadas para os comportamentos pouco éticos, como já tens feito...
Afonso balbuciou, entre dentes:
- Não é bem isso... É que...
Serafim interrompeu-o e continuou:
- Ok... ok... Eu sei que, às vezes, só o fazes para me contrariares e me fazeres falar mais do que eu próprio quereria... Mas, voltando à vaca fria... A história verdadeira é a que te vou contar... No ano 2004 o Simon Aronson tinha, no seu website, para descarga gratuita, um PDF com o título “Memories Are Made of This – an Introduction to Memorized Deck Magic” e o Alexandre Figueiras colocou à venda no seu website "The Wonder Shop" esse mesmo livrinho... Ou seja, fez a descarga gratuita e imprimia o livrinho para vender por 15 dólares...
- É pá!... – exclamou Afonso – Isso é que é mesmo “chico-espertice”... Ou será oportunismo?... Se calhar é mesmo vigarice...
- De certeza que é uma tremenda falta de ética e de princípios – afirmou Serafim.
- Sem dúvida – anuiu Afonso pensativo.
Serafim, pareceu adivinhar o pensamento do amigo e comentou:
- Afonso, eu até sei o que estás a pensar...
Perante o olhar interrogativo de Afonso, Serafim continuou:
- Estás a pensar: "O Luís de Matos deve estar muito contente ao verificar que é gente deste jaez que sai a terreiro para "tomar as suas dores"...
Afonso permaneceu em silêncio e, de repente, como se uma súbita ideia lhe tivesse ocupado a mente, disparou:
- Pensando bem, tenho ideia que, na época, esse assunto foi denunciado pelo Jomaguy no fórum ILUSORIUM... Será para não ser reconhecido por esse comportamento que o Alexandre Figueiras mudou de “nome” para Alex D’Arcy?
Serafim ficou em silêncio. Há perguntas pertinentes que deixam qualquer um sem palavras.
[...]
Estava na hora de regressar a casa. Sem dúvida tinha que consultar o dicionário para esclarecer se existe a palavra “trilema”... É que eu estou perante o seguinte “trilema”: OPORTUNISTA, VIGARISTA ou “CHICO-ESPERTO”?
quinta-feira, maio 28, 2020
CANTAS BEM, MAS NÃO ME ENCANTAS....
Hoje fui, de novo, tomar o meu cimbalino ao Café Bom Dia. Até porque estava mesmo um bom dia e há que aproveitar em pleno o desconfinamento possível.
Quando lá cheguei, apenas uma mesa da esplanada estava ocupada.... Lendo atentamente o seu JN, lá estava o Afonso. Desta vez sem a companhia do Serafim. Ao passar perto (a mais de 2 metros, seguramente) da sua mesa, cumprimentei-o e trocamos algumas breves palavras de circunstância. Pareceu-me que Afonso queria conversa, mas não comigo. Normalíssimo. Ele gosta mesmo é de falar com o “seu” Serafim.
Sentei-me numa mesa um pouco afastada e pedi o meu cimbalino. No momento em que este foi colocado à minha frente e me preparava para o adoçar, sou “despertado” por um chamamento bem audível.
[...]
- Ó Serafim... Serafim... – bradava Afonso, dirigindo-se ao amigo que ia a atravessar o Jardim da Praça Velásquez (perdão, Francisco Sá Carneiro) – Anda cá tomar um cafezinho, que hoje pago eu!
Serafim olhou na direcção da voz que o chamava, identificou o amigo Afonso e respondeu:
- Não posso. Tenho que ir ali ao Pingo Doce comprar o que a minha mulher me encomendou.
Afonso insistiu:
- Será um café rápido... Anda cá... Até porque temos uma conversinha a pôr em dia.
Serafim não se fez rogado. Procurou a travessia de peões mais próxima para poder atravessar em segurança a faixa de rodagem e, passados breves instantes, estava a sentar-se na mesa ao lado da do amigo.
- Vais ter que ser uma conversa rápida, Afonso. – afirmou Serafim – A minha mulher pediu-me para ir comprar bacalhau e, tu sabes, com aquela inovadora receita de Bacalhau à Luís de Matos que, há dias, apareceu na net, o bacalhau é capaz de ter muita procura... e esgotar!
Afonso anuiu com um sorriso e disse:
- Ora é precisamente do Luís de Matos que te queria falar. Tu viste aquele post bem simpático que ele colocou na sua página do Facebook a felicitar o Helder Guimarães por ter sido capa do LA Times Calendar com o espectáculo The Present... É bonito de se ver esta demonstração de respeito por...
Serafim não deixou o amigo continuar, interrompendo-o da seguinte maneira:
- Ó Afonso tu deves estar a gozar com a minha cara!... Só pode!... Tal como o Luís de Matos, ao fazer esse post, deve estar a gozar com a cara do Helder Guimarães e de todos aqueles que sabem a falta de respeito (sim, Afonso, repito: FALTA DE RESPEITO...) que o Luís de Matos teve para com o Helder Guimarães ao COPIAR o conceito do espectáculo “The Present” e lançar o seu super-criativo “Luís de Matos ZOOM”... Respeito teria sido abordar previamente o Helder Guimarães e tentar encontrar um consenso que lhe permitisse fazer tal espectáculo dando o correspondente crédito ao Helder Guimarães.... Portanto, Afonso, não me venhas falar de respeito, que eu passo-me dos carretos ainda mais do que o Pedro Soá do BB2020!
Por momentos, um silêncio estranho ficou a pairar entre os dois amigos... Um pouco a medo, Afonso parecia tentar encontrar algo de positivo que pudesse dizer. Finalmente Afonso quebrou o silêncio e disse:
- Mas olha que o Luís de Matos nunca disse que a ideia era original...
Serafim voltou a interromper o amigo e respondeu-lhe:
- Pois nunca disse... Porque não poderia dizer... Mas deixa que essa ideia se implante na cabeça das pessoas.... Por exemplo... Quando o Peter Wardell (acerca do espectáculo “Luís de Matos ZOOM”) comenta “Ahead of the curve (again!) – beautifully done.” (sic), o Luís de Matos responde-lhe “Thank you my friend, you are very kind... hope you all are well...” (sic) Achas que isto é ter respeito pelo colega de profissão Helder Guimarães?
Afonso foi incapaz de responder ao amigo. Há coisas que deixam qualquer um sem argumentação. Passados alguns instantes, Serafim continuou:
- E sabes uma coisa, Afonso? Aquele post do Luís de Matos é mesmo intragável... para não dizer coisa pior, pois estamos num local público. É mesmo desfaçatez vir referir que convidou o Helder Guimarães para um dos seus programas de televisão. Até parece querer implantar, subliminarmente, a ideia de que ajudou o Helder Guimarães na sólida carreira que vem construindo. Mas, na minha perspectiva, a realidade é bem diferente.... Ele convidou o Helder Guimarães em 1996 para o programa ILUSÕES COM LUÍS DE MATOS, mas não o convidou, em 2001, para o programa LUÍS DE MATOS AO VIVO, quando é fácil verificar que houve inúmeros mágicos que foram repetidamente convidados em diferentes séries de televisão do Luís de Matos. Porque seria, Afonso?
Afonso manteve-se em silêncio, abanando a cabeça para demonstrar a sua ignorância quanto à resposta solicitada. Serafim tomou fôlego e disse, com ar “sherlockiano”:
- Elementar, meu caro Afonso!... É que, em 1996, o Helder Guimarães tinha 13/14 anitos e não passava de um miúdo com jeitinho e que era giro levar ao programa e, em 2001, o Helder Guimarães tinha 18/19 anos e era um potencial concorrente em formação, tendo já, por exemplo obtido um prémio, em Cartomagia, em Málaga, no Congreso Mágico Espanhol de 1998. Aliás, o Luís de Matos, numa estratégia perfeitamente perceptível de “em terra de cegos quem tem um olho é rei” nunca “puxou” pela valorização dos mágicos portugueses.... “Puxou” sim pela valorização da magia como Arte com a vinda de inúmeros bons mágicos estrangeiros, ajudando a implantar a ideia de que ele, Luís de Matos, era o “oásis no deserto” da magia em Portugal. Claro que isto que agora te disse é o pensamento de muitos e muitos mágicos portugueses, mas por conveniência, medo ou mero “lambe-botismo” a maioria nunca será capaz de o assumir.
Afonso ficou silencioso, absorvendo as palavras do amigo e, após alguns segundos, atirou:
- Agora que falas dessa maneira lembro-me de uma vez ele ter dito qualquer coisa do género: “em Portugal não há mágicos que façam este tipo de magia...”
Serafim interrompeu o amigo e disse:
- Sei muito bem a que te referes... Sabes, uma coisa?
E, sem esperar resposta do amigo, Serafim continuou:
- O Luís de Matos sempre teve “boa imprensa” em Portugal. Nunca lhe fazem perguntas difíceis... Mas, se não estou enganado, creio que foi no LISBOA MÁGICA 2006, uma jornalista fez-lhe uma pergunta difícil, a saber, “porque é que não havia mágicos portugueses no cartaz”... Acho que ele foi apanhado um pouco de surpresa, mas lá se desenrascou, afirmando que, em Portugal havia bons mágicos, mas que naquele tipo específico de magia (street magic / magia de rua) não havia especialistas... E ele até desejava que o festival servisse para fazer despertar praticantes para tal modalidade. Foi, naturalmente, uma resposta inteligente, mas a jornalista não tinha todo o “trabalho de casa” bem feito, pois, caso contrário, poderia confrontá-lo com os nomes de diversos mágicos estrangeiros (sem dúvida, excelentes) que ele já havia convidado para trabalharem em magia de rua e que não eram especialistas em tal modalidade. No ano seguinte (2007) ele convidou o Helder Guimarães para trabalhar no LISBOA MÁGICA, não por ser um especialista em tal modalidade, mas por ser CAMPEÃO DO MUNDO DE CARTOMAGIA (FISM 2006), logo um nome que não poderia ignorar...
Serafim, olhou para o relógio, soltou uma interjeição irreproduzível e disse:
- Afonso, tenho mesmo que ir... Para terminar só te digo uma coisa... Se tivesse conta no Facebook iria comentar o post do Luís de Matos com a seguinte frase: “CANTAS BEM, MAS NÃO ME ENCANTAS!”
[...]
Serafim afastou-se. Levei a chávena do cimbalino à boca... Estava frio e amargo... Há coisas que não consigo engolir... O café frio e amargo e certos posts no Facebook.
segunda-feira, maio 25, 2020
BACALHAU À LUÍS DE MATOS
Devo começar por dizer que já não encontrava estes dois amigos há algum tempo. O que não é para estranhar, pois o confinamento tem mantido todas as pessoas conscientes afastadas dos locais de convívio habitual.
Hoje, quando tomava o meu cimbalino na esplanada do Café Bom Dia, os timbres inconfundíveis das suas vozes captaram a minha atenção: em amena cavaqueira ali estavam eles, o Serafim e o Afonso.
E logo reparei que eles são zelosos cumpridores das regras de distanciamento social, pois ambos usavam máscara e ocupavam mesas distintas da esplanada. Dados estes condicionalismos a conversa decorria num tom de voz um pouco mais elevado, o que me permitiu perceber de imediato o teor da mesma. Decidi não os interromper. Haveria tempo de sobra para os ir cumprimentar... à distancia, claro!
[...]
- Pois, meu caro Afonso, eu sempre te disse que nunca achei que o Luís de Matos fosse muito criativo... – afirmou Serafim, pausadamente, como quem escolhe as melhores palavras para transmitir a ideia que lhe vai na mente – É um bom comunicador... Direi mesmo, um excelente comunicador, mas não tem, nem de perto nem de longe, a criatividade que lhe atribuem.
- Calma aí, Serafim – interrompeu Afonso – E então aquela fabulosa rotina do lencinho que muda de cor?
Serafim fez um breve pausa e respondeu:
- Claro que isso é criatividade, mas CRIATIVIDADE “DÉJÀ VU”... Ou será que tu não te lembras da rotina do Pepe Carroll?
- Ok...ok...ok... – atalhou, de imediato Afonso – Mas não me vais dizer que aquela forma estética de apresentação da “Tripla Fantasia” de costas para o público com as mãos e cartas sobre a cabeça não é um verdadeiro hino à criatividade artística... Olha que até se diz por aí nos “mentideros da magia” que o Luís de Matos esteve quase a meter uma acção em tribunal contra um mágico que apresentou aquela rotina com aquela estética...
- Está bem, Afonso, não te chateies... – respondeu Serafim – Quanto ao que se diz nos “mentideros” nada sei... Nem quero saber... Palpita-me que nesses tais “mentideros” que referes pode haver muitas manifestações de “lambe-botismo” que nada me interessam... Mas posso dizer-te que antes do Luís de Matos apresentar a “Tripla Fantasia” com aquela estética, já Juan Gabriel [Nota explicativa: mágico espanhol já falecido] o fazia. Portanto, mesmo considerando que o Juan Gabriel foi (pelo menos durante algum tempo) amigo do Luís de Matos e que, eventualmente, o tenha autorizado a usar tal estética de apresentação, só consigo encontrar aqui, mais uma vez, CRIATIVIDADE “DÉJÀ VU”...
Durante alguns instantes, Afonso ficou em silêncio. Parecia que o seu amigo Serafim encontrava sempre argumentos para o contrariar. Mas, intimamente, tinha que lhe dar razão pois os argumentos eram claros e inequívocos. Mas Afonso não gostava de deixar o seu amigo com a última palavra. E, de repente, lembrou-se de algo inovador que vira na página Facebook do Luís de Matos. Sem mais delongas, Afonso atirou:
- Meu caro Serafim, nesta é que não vais poder contrariar-me... Nestes tempos em que não há espectáculos, o Luís de Matos criou um conceito novo...
Sem deixar o seu amigo terminar, Serafim atalhou:
- Já sei.. Estás a falar do Luís de Matos Drive-In...
- Não... Não é isso. – ripostou Afonso – No caso do Drive-In, eu próprio acho que não houve grande criatividade. No fundo foi transformar um “cinema” num “teatro”... Acho que ninguém achará isso extremamente criativo... Estava a referir-me ao conceito do “Luís de Matos ZOOM” que ele divulgou no passado dia 21 de Maio...
Serafim não se conteve e interrompeu o seu amigo com uma sonora gargalhada:
- Ahahahahahahahahahahahahahahahahahahah....
Dois casais que estavam na esplanada não conseguiriam evitar um torcer de pescoço para olharem na direcção de quem se ria daquela forma tão genuína. A custo Serafim conteve a vontade de continuar a rir-se e, virando-se para Afonso, disse:
- Meu caro Afonso, tu deves mesmo andar na Lua... Ou então a tua cegueira em considerares o Luís de Matos o supra-sumo da magia portuguesa leva-te a não enxergares o que está mesmo à frente dos teus olhos... O Luís de Matos limitou-se a copiar (e, sublinho, COPIAR, para que tu, Afonso, fixes bem a ideia...) o conceito do novo espectáculo do Helder Guimarães, The Present, que está fazer sucesso nos Estados Unidos, o qual foi anunciado publicamente no dia 22 de Abril... Por isso, Afonso, não me venhas com mais tretas de criatividade dessa... Isso é o que eu designo por criatividade à moda do Luís de Matos, ou seja, CRIATIVIDADE “DÉJÀ VU”.
Um longo silêncio seguiu-se a esta conclusão.
[...]
Aproveitei para me levantar, pois eram horas de regressar a casa. Passei perto das mesas onde estavam Serafim e Afonso, aproveitando para os cumprimentar à distância regulamentar. Depois de uma breve conversa de circunstância dirigi-me a casa onde me esperava um Bacalhau à Luís de Matos... Já sei... Querem que vos diga a receita... É muito simples... É Bacalhau à Gomes de Sá feito com CRIATIVIDADE “DÉJÀ VU”.
sábado, maio 23, 2020
Descubra as diferenças...
Um passatempo divertido e muito comum em jornais e revistas é... "Descubra as diferenças". Hoje lembrei-me de vos propôr um desafio desse estilo, com temática mágica.
Das duas fotos seguintes, uma é original e a outra é cópia. Adivinhem qual é a cópia.
domingo, maio 17, 2020
THE PRESENT - Crítica do LA Times
Esta é a crítica ao mais recente espectáculo de Helder Guimarães.
A capacidade criativa do único mágico português com o título de Campeão Mundial de Magia levou-o a reinventar-se e a criar mais um espectáculo de sucesso
(Nota: o bilhetes para a temporada inicial esgotaram em menos de uma hora e a temporada já teve dois prolongamentos).
sábado, maio 09, 2020
Faleceu ROY HORN
Vitimado pela COVID-19 faleceu Roy Horn da célebre dupla de mágicos Siegfried and Roy, que, durante décadas, foram super-estrelas do mundo do espectáculo em Las Vegas. Paz à sua alma.
A melhor maneira de o homenagear será assistir a uma das primeiras aparições da dupla no pequeno ecrã.
sexta-feira, maio 08, 2020
CONDE D'AGUILAR
Mais um "tesourinho" que descobri nos Arquivos da RTP.
Neste video (a partir do minutos 19:46) pode ser vista um breve entrevista (intercalada com excertos de actuação) realizada a Conde d'Aguilar que, em meados do Século XX era o ilusionista português mais conhecido.
Aos minutos 4:13 e 4:40 podem ser vistos os posters com que se anunciava a sua presença no elenco do Circo Americano.