A leitura do texto "Borlas nunca mais" de Miguel Esteves Cardoso publicado no PÚBLICO (ver aqui) trouxe-me à memória um episódio passado comigo que irei relatar juntamente com alguma considerações a propósito do mesmo.
Há algum tempo, fui contactado por uma produtora de um canal de TV, solicitando a minha participação no programa que produzia. Quando lhe perguntei qual a verba que dispunha para cachet fez-se silêncio na linha telefónica como se a ligação tivesse caído... Está claro que estranhou (e muito!) a minha pergunta...
Por momentos pareceu-me que eu tinha dito alguma blasfémia. Por fim lá respondeu que não tinham orçamento para pagar a minha prestação, mas que seria bom para divulgar o meu trabalho… blá, blá, blá…
Agradeci o contacto, recusando-me a participar gratuitamente e reafirmando a minha disponibilidade para colaborar numa futuro programa em que ela dispusesse de orçamento adequado a remunerar o meu trabalho.
É oportuno meditar um pouco sobre este assunto.
Já pensaram que a produtora que me contactou estava a ser (justamente!) remunerada pelo seu trabalho?
Já pensaram que o apresentador do programa também é (justamente!) remunerado pelo seu trabalho?
Já pensaram que se todos os artistas (ilusionistas e não só…) se recusarem a participar gratuitamente, o programa deixa de ter conteúdo?
Portanto podemos concluir que são os artistas que trabalham gratuitamente que permitem manter o trabalho remunerado da produtora, do apresentador e dos restantes profissionais ligados à produção e realização do programa.
Será isto justo?