quarta-feira, dezembro 01, 2004

4 DIAS DE MAGIA EM SARAGOÇA

(Reportagem publicada no Boletim Informativo API Nov./Dez.2004)

O leit-motiv deste Congresso Nacional Espanhol, realizado em Saragoça de 1 e 4 de Julho de 2004, foi o permanente atraso de todas as actividades programadas, começando logo na recepção aos congressistas na manhã de 1 de Julho, programada para as 10 horas locais... Como ainda tinha o meu relógio pela hora portuguesa, quase nem me apercebi do atraso…


GALAS 

A GRAN GALA DE APERTURA, prevista para as 15 horas, começou às 16:15, devido a problemas técnicos, que não foram resolvidos pois o sonido esteve muito mau e as luces estiveram muito pior!!! 

SERGI BUKA teve uma "falsa partida", pois a música não arrancou em paralelo com a projecção no ecrã. Acho que tal situação afectou a respectiva actuação. 

CARLOS Y ANA apresentaram Grandes Ilusões. Começaram com a ORIGAMI e quando iam apresentar a LEVITAÇÃO, o pano fechou pois algo não funcionava. O pano reabriu para executarem, então, a LEVITAÇÃO, com apresentação bem mais conseguida do que a da ORIGAMI. 

Seguiu-se ARSENE LUPIN, com o (antigo) número de produção de jóias. Revelou alguma falta de timing nas cargas e a carga final pareceu-me ''descarada". 

Fechou a gala PEDRO III, com um número de Grandes Ilusões com bom ritmo, onde realço uma Metamorfose muita rápida. 

As luzes cometeram várias "atrocidades", prejudicando os artistas. O apresentador JANDRO salvou a GALA, sem "roubar" o protagonismo aos artistas. Nota máxima. 

No segundo dia tivemos a 1ª GALA DE CERCA, apresentada por DANI DAORTIZ, que fez um trabalho acertado. 

BORIS WILD esteve ao seu (bom) nível tendo a preocupação de não repetir efeitos da conferência do dia anterior. 

ANDREW WIMHURST não teve essa preocupação (ou então a culpa é minha e todos os efeitos de cartomagia com técnicas de batota me parecem iguais...) e a sua actuação pareceu-me mal estruturada. 

Seguiu-se uma singela homenagem a PEPE CARROLL, constituída por um pequeno filme projectado no ecrã gigante e uma actuação de MIGUEL ANGEL GEA com uma espécie de medley de rotinas de Pepe Carroll, desenvolvido para uma homenagem promovida na SEI. Miguel Angel Gea não esteve bem, pois a sua actuação não estava prevista e foi "convocado" em cima da hora. 

MIGUE apresentou a rotina que lhe valeu o 1° prémio na última FISM. Não esteve tão bem como na FISM. 

A CENA-ESPECTÁCULO para a qual não me inscrevi, pelos comentários ouvidos, correu bem. 

No sábado tivemos uma 2ª GALA DE CERCA, também apresentada por DANI DAORTIZ.

MANOLO TALMAN apresentou com mestria o seu número premiado no congresso anterior e no Memorial Ascanio. 

NICHOLAS EINHORN esteve muito bem. Uma rotina onde enlaça 3 anéis emprestados por 3 espectadores deixou-me pensativo até à conferência. 

JEAN PIERRE VALLARINO apresentou o seu número tradicional de cartas, moedas e copos de brandy. O estilo não me agrada em especial mas esta foi a vez que mais gostei de o ver actuar. 

ROBERTO GIOBBI fechou a gala com chave de ouro. Perfeito, brilhante e outros adjectivos similares expressam, por defeito, a minha opinião. 

O dia terminou com a GRAN GALA INTERNACIONAL, aberta ao público e primeira actividade do programa com atraso inferior a 15 minutos! 

NORBERT FERRÉ mostrou porque foi Grande Prémio na FISM 2003, RAFAEL foi um excelente número cómico e JUAN TAMARIZ encerrou a primeira parte com algumas cartas de jogar e MUITÍSSIMO TALENTO, o que não foi surpresa para ninguém. 

Juan Mayoral e Mirko Callaci não puderam estar presentes por motivos de doença e familiares e foram "substituídos" por JULIUS FRAK, que apresentou o seu excelente número. 

ARSENE LUPIN apresentou o número das cadeiras, premiado na FISM. Esteve muito bem, mas acho que o facto de não ter havido tradução simultânea (o número é em inglês) prejudicou o impacto no público leigo. As suas partenaires agradaram aos leigos tanto como tinham agradado aos mágicos na conferência. 

RICHARD McDOUGALL apresentou o seu excelente número minimalista de manipulação e mímica. Para quem estava mais longe do palco foi um número pouco visível. E o técnico de luzes ainda lhe fez black-out antes do número terminar... 

YUNKE fecharam a gala com o seu número de Grandes Ilusões e estiveram no padrão de qualidade habitual. 

A apresentação da gala esteve a cargo de MIGUE. A apresentação sóbria não comprometeu, mas pareceu-me pouco preparada. Esperava mais, mesmo sem ter que arrebatar a gala, como aconteceu, há anos, no Congresso de Málaga. Nem oito nem oitenta. 

No dia 4, o congresso encerrou as actividades com a GRAN GALA DE PREMIADOS. Além de diversos premiados, actuaram RIVERSON Y SALLY em Grandes Ilusões. 

Não gostei da apresentação, que este a cargo de MAGIC ANDREU. Tem muito traquejo e domina as tábuas (do palco), mas por vezes ultrapassa os limites da decência e torna-se grosseiro e inconveniente. O cabelo grisalho ajuda a que o aceitem assim, penso eu de que... 


CONFERÊNCIAS 

A primeira conferência, de BORIS WILD, foi diferente da que lhe conhecia e vi-a com muito agrado, não só pelo conteúdo como pela personalidade do conferencista. 

O primeiro dia terminou com a conferência de ANDREW WIMHURST. Foi uma conferência sobre cartomagia com técnicas de batota. Um tema demasiado específico com um alinhamento ad hoc, aliado à hora tardia a que a conferência se realizou, levam-me a considerá-la como a menos interessante de todas. 

A primeira conferência do 2° dia de congresso esteve a cargo de DAN1 DAORTIZ y MANOLO TALMAN. A primeira parte foi muito interessante - Dani DaOrtiz explicou um princípio teórico, dando exemplos práticos. A segunda parte foi maçadora pois foi uma palestra de Manolo Talman sobre como abordar a presença em concursos de Magia. Os conceitos transmitidos, fruto de uma larga experiência como concorrente, eram muito valiosos, mas Manolo Talman não é um orador que cative sem o apoio das suas técnicas mágicas. 

Neste 2° dia tivemos, mais uma vez, o prazer de apreciar JUAN TAMARIZ num SHOW UNIPESSOAL e CONFERÊNCIA. A conferência abordou a forma de ligar humor e magia sem "prejudicar" o impacto desta última. Como sempre, esteve SOBERBO. 

O dia 3 de Julho começou com a conferência de ARSÈNE LUPIN. Apresentou alguns efeitos de Magia Geral interessantes, mas não tão interessantes como as 2 (duas!) partenaires, a fazer fé na reacção da sala sempre que elas apareciam... Apresentou um efeito mágico baseado num puzzle que deixou rendidas as mentes mais matemáticas mas o puzzlezito custava a módica quantia de 90 euros... (sem as partenaires). 

À tarde tivemos duas conferências. A primeira, a cargo de JEAN PIERRE VALLARINO foi uma explicação salteada de truques da sua rotina e dos seus vídeos. Sem estrutura de conferência, parecia estar a cumprir uma cláusula contratual. Teve alguns momentos interessantes 

A última conferência do dia foi a de ROBERTO GIOBBI. Estupenda, magistral e outros adjectivos similares é o mínimo que se pode dizer deste mestre contemporâneo. Quando o vejo palestrar fico convencido que afinal a MAGIA até é muito simples... 

No domingo, a conferência de NICHOLAS EINHORN foi uma conferência de explicação de bons efeitos mágicos de sua autoria. Explicou duas versões diferentes do tal enlace de anéis emprestados e (claro!) executou o efeito Spooked, que comercializa, sem o explicar. 


CONCURSOS 

O congresso incluiu 4 sessões de concurso: duas de "escena" e duas de "cerca". O nível do concurso de mesa foi superior ao do palco (como é de esperar em Espanha...), o que acabou por se "materializar" no GRAN PREMIO de MIGUEL ANGEL GEA, que concorreu em Cartomagia. 

No palco, nenhum dos concorrentes de Magia Cómica me fez esboçar um sorriso, mas o júri lá conseguiu desencantar piada num deles para lhe atribuir um prémio. Na lª sessão do Concurso de Palco actuaram, em Manipulação, os "nossos" BRUNO e MIGUEL CAMPOS. Estiveram bem com as rotinas que lhes conhecemos. A rotina de Bruno beneficiou, a meu ver, com a troca das "cartas espelhadas" por "cartas normais" e com a utilização de bolas de papel na sequência manipulativa. Achei, no entanto, que alguma da movimentação cénica foi desadequada. Miguel Campos esteve melhor do que em anteriores actuações que presenciei. Esteve alegre e confiante e convenceu o Júri (que é quem interessa nos concursos). No entanto, as produções de CD's feitas junto do corpo continuam a não conseguir criar-me ilusão. 

Na 2a sessão do Concurso de Palco actuaram os "nossos" DIMAS (Magia Geral) e ANDRÉLY (Manipulação). Dimas apresentou uma nova rotina (de teor romântico lembrando a de Juan Mayoral). O cenário é lindíssimo mas a rotina necessita de afinação: há efeitos que, como foram apresentados, me parecem sair do contexto da rotina. Andrély apresentou a sua conhecida rotina. Esteve seguro e muito bem nas produções de rolas. Deverá alterar (ou retirar) a sequência de cachimbos pois, tal como está, não transmite Magia. 

No Concurso de Mesa não houve concorrentes portugueses nem avalizados pela API.

segunda-feira, outubro 25, 2004

MEMORIAL ASCANIO 2004

 

BREVE REPORTAGEM

Pelo 2º ano consecutivo estive presente neste evento mágico que o Círculo de Madrid da SEI promove anualmente. O modelo adoptado para este evento permite aos participantes uma óptima relação entre “magia absorvida” e “tempo despendido”, pois entre as 10 horas de sábado (23 de Outubro) e as 19 horas e 30 minutos de domingo (24 de Outubro) permitiu apreciar:

  • Um concurso de Magia de Mesa com 7 concorrentes;
  • Um concurso de Magia de Palco com 3 concorrentes;
  • Duas conferências de VITO LUPO;
  • Uma conferência e um oficina (workshop) de TONY CACHADIÑA;
  • Uma Gala Mágica com 5 artistas convidados: MURPHY (apresentador), ALEJANDRO FURNARDJIEW, RAHMA KHAN, HECTOR e ARESON;
  • Uma Gala mágica de encerramento com 7 artistas convidados: PEPE REGUEIRA (apresentador), JOE BURK, GEA, TONY CACHADIÑA, HECTOR, ARESON e VITO LUPO; apesar de não estar previamente indicado no programa esta gala também incluiu 2 artistas premiados: HELDER e KARIM;
  • Um Cocktail Mágico com 4 artistas convidados: IVAN, DAVO, JOSE "QUESOYYO" e MIGUELAJO.

A primeira conferência de VITO LUPO foi teórica e nela transmitiu muitas ideias fundamentais à prática de BOA magia, fruto da sua experiência pessoal e da sua permanente aprendizagem em áreas artísticas variadas (teatro, mímica, etc.). EXCELENTE! A segunda conferência, embora, aqui e ali, aflorasse alguns pontos teóricos foi mais prática, com explicação de técnicas e truques que, na maioria, já lhe tinha visto numa conferência realizada em Portugal, “há séculos”. Nesta segunda intervenção também esteve bem, mas como conferência foi menos conseguida que a anterior. 

Devido ao atraso com que se iniciara o Concurso Ascanio, a conferência de CACHADIÑA teve que ser compactada. Percebeu-se que a ideia estruturante da mesma era homenagear Arturo de Ascanio pondo e evidência a aplicação das suas ideias teóricas em rotinas que desenvolveu. Mas como passou “a correr” a parte teórica a fim de ter tempo de apresentar todas as rotinas que trazia preparadas, a conferência transformou-se numa exibição e explicação de truques. Teria sido preferível retirar uma ou duas rotinas da conferência e desenvolver melhor os aspectos teóricos nas que fossem apresentadas. A oficina versou “efeitos com notas de banco”. Não foi uma oficina no sentido exacto do termo, mas uma palestra informal com participação de alguns dos presentes. Aliás a extensão do material recolhido por CACHADIÑA dava para uma oficina de… 2 dias!

As galas mágicas foram boas. Na primeira destaco negativamente a prestação de ALEJANDRO FURNARDJIEW, que esteve numa tarde de azar (deduzo eu, pois o Prémio na recente Flasoma diz algo do seu valor). A primeira parte da rotina de cartas foi um desastre. Quando se apercebeu que lhe tinha ficado indevidamente baralhada a montagem, não deveria ter insistido em continuar. E destaco positivamente RAHMA KHAN que continua a ser um faquir cujo trabalho mostra a mesma classe que lhe vi na Figueira da Foz, no século passado.

Na Gala Mágica de Encerramento há que destacar negativamente o apresentador. PEPE REGUEIRA tem muita experiência e muita graça, mas transformou a gala no “seu” espectáculo com a inclusão de alguns convidados. Apresentações muito demoradas entre os artistas levaram a gala a terminar a horas impróprias. Como tinha que sair às 19 horas (a IBERIA “recusou-se” a retardar a partida do avião…) não vi a actuação de VITO LUPO. Também não se entende que HECTOR tenha participado em ambas as galas apresentando parcialmente a mesma rotina. Nesta gala não actuou JOE BURK por se encontrar internado num hospital, em situação clínica complicada. Foi-lhe prestada uma homenagem com projecção de referências à sua carreira e, no final. Foi-lhe tributada uma forte ovação.

O cocktail mágico permitiu ver mesmo Magia de Cerca, pois na sala em que decorreu o cocktail foram instaladas 2 mesas em cantos opostos onde os 4 convidados se revezaram na apresentação das suas rotinas. Apesar de afastadas, as mesas não ficaram imunes a interferências mútuas nos momentos de aplausos e outras reacções dos respectivos públicos.

Para culminar este fim de semana de muita (e BOA!) magia, este ano os concursos tiveram um sabor muito especial para nós, portugueses, pois os nossos 2 compatriotas que se apresentaram nos concursos foram galardoados: HELDER ganhou o Prémio Ascanio e MIGUEL CAMPOS ganhou o Prémio Páginas do Concurso Frakson. PARABÉNS A AMBOS.

Os prémios ASCANIO e FRAKSON são atribuídos por decisão de um "duplo júri": júri técnico e júri artístico. Este ano o júri técnico foi constituído por: Camilo Vasquez, Luis Boyano, Augustin Leal, Miguel Gómez e Jorge Blass. O júri artístico foi constituído por um conhecido (em Espanha, naturalmente) actor de Teatro, Cinema e Televisão e por um Actor/Encenador teatral, dos quais não recordo o nome.

Os prémios Páginas são atríbuídos por votação secreta dos presentes, com a seguinte condição expressa: caso o mais votado coincida com a decisão do júri, o prémio é atribuído ao segundo mais votado.

Nas conversas de corredor que mantive (antes de serem conhecidos os resultados) com diversos magos espanhóis pareceu-me haver concordância quase generalizada com a decisão do júri relativamente à atribuição do Prémio Ascânio ao HELDER. O mesmo não me pareceu acontecer relativamente ao Prémio Frakson, onde diversas opiniões apontavam para MIGUEL CAMPOS como merecedor de tal prémio. Eu partilho desta opinião, embora goste bastante da rotina apresentada por KARIM (vencedor do Prémio Frakson). No entanto KARIM teve algumas falhas que no meu ponto de vista o deveriam ter penalizado mais do que parece ter acontecido.