domingo, dezembro 28, 2003

Carta ao PAI NATAL


É quase um lugar comum dizer que a época de Natal é uma... época mágica. Que mais não seja porque, com os constantes apelos ao consumismo (que nos “assaltam” no dia a dia), é, para a maioria dos portugueses, verdadeiramente mágico conseguir esticar o orçamento para as prendas da praxe. 

Mas claro que estas prendas trocadas, quer seja por um gesto de amizade quer seja por mera “obrigação social”, não encerram a mesma “magia” que as prendas tinham na nossa meninice quando apareciam “magicamente” na chaminé... 

E como era emocionante escrever a carta ao Pai Natal (ou ao menino Jesus) e esperar pela madrugada dos 25 de Dezembro para saber se ele correspondera (ou não) ao nosso pedido... Por isso foi com redobrada alegria que li a carta que o meu velho amigo Afonso (da célebre dupla Serafim e Afonso...) escreveu ao Pai Natal. Com autorização do autor aqui fica a respectiva transcrição. 


Meu caro Pai Natal 

Deves ficar espantado ao receber esta carta minha, pois já não te faço pedidos há alguns anitos. E se este ano decidi, novamente, escrever-te, tal não significa que te venha pedir algo para mim. Nem pensar! Com tanta gente necessitada (que há por aí) e com a contenção orçamental que a Dra. Manuela, quase de certeza, te impôs, acho que só faz sentido satisfazeres necessidades inadiáveis. 

Portanto resisti ao egoísmo de te pedir algo para meu usufruto pessoal Aqui te deixo algumas das necessidades que detectei nos últimos tempos para colmatares na medida das tuas possibilidades: 

- Um boião de coragem para aqueles cuja cobardia apenas permite manifestar opiniões através de cartas e e-mails anónimos; 

- Um dentífrico ultra-forte para quem manda os outros lavar a boca sem antes cheirar o seu próprio hálito; 

- Um frasco de “percebas” para quem atribui a uns o que outros escrevem; 

- Uma caixa de cotonetes para quem “emprenha pelos ouvidos”; 

- Outra caixa de cotonetes para quem só ouve o que lhe convém; 

- Uma embalagem de educação e bom senso para todos os já referidos... e mais alguns. 

Com tudo isto acho que já tens trabalho que te chegue... e sobre! Se calhar, vais deixar de ser aquele indivíduo que tem o melhor emprego do mundo, pois só trabalha um dia por ano, e vais ter que fazer horas extra... Contingências da crise... da crise de valores, claro! 

Um abraço 

Afonso 

P.S.: Já agora aproveita e deixa no sapatinho de cada mágico uma embalagem com... A TRIPLA FANTASIA!


E NÃO HAVIA BOLINHOS DE BACALHAU COM ARROZ DE FEIJÃO...


5 de Dezembro, 13 horas e 30 minutos. 

Entro num snack bar da baixa portuense onde almoço com frequência, após uma breve paragem para consultar a ementa afixada na respectiva porta envidraçada. A decisão estava tomada: bolinhos de bacalhau com arroz de feijão. 

Sento-me ao balcão e, imediatamente, me apercebo que algo de estranho se passa no outro extremo do mesmo, mais propriamente, na chamada “zona de serviço”. Faço o pedido ao empregado, mas sou confrontado com a triste realidade... dos bolinhos de bacalhau com arroz de feijão já se terem eclipsado! Opto pelo lombo assado e, enquanto espero pela correspondente meia dose, tenho oportunidade de me aperceber do imbróglio que despertara a minha atenção. 

A situação relata-se em duas penadas. Um cidadão de nacionalidade estrangeira (talvez, ucraniano) que tinha vindo comprar comida na opção take away, reclamava que o troco não estava correcto, pois tinha entregue 50 euros (para pagar um montante situado entre 10 e 15 euros) e, além de algumas moedas, recebera uma nota de 5 euros, uma nota de 10 euros e uma terceira nota, também esta de 5 euros. Numa primeira reacção o gerente (o sr. Jorge) foi à caixa registadora para “desfazer” o engano, mas, logo que a abriu, ficou seguro de que não houvera engano. De facto ele tinha a certeza que, antes de atender tal cliente, só tinha uma nota de 20 euros na caixa registadora. Como, nesse momento, já lá não tinha qualquer nota desse valor, era óbvio que teria que a ter entregue ao dito cliente. E, num flashback imediato, relembrou-se de uma cena perfeitamente idêntica passada algumas semanas antes, com o mesmo indivíduo. 

Não tendo dúvidas que estava perante uma tentativa de burla, recusou-se a entregar-lhe o montante reclamado como estando em falta. Entre frases proferidas num inglês mal arranhado e um mostrar dos bolsos do casaco, o citado cliente ainda tentou convencer que estava a falar verdade, mas o sr. Jorge aconselhou-o a chamar a polícia e ele achou por bem, retirar-se. Entretanto chega o lombo assado e, enquanto me entretenho com ele, assisto à conversa do sr. Jorge com dois clientes habituais da casa, que já haviam terminado o respectivo almoço. Para além do relato circunstanciado da ocorrência e da lembrança que tinha da burla anterior com que o mesmo sujeito o enganara, o sr. Jorge disse algo do género:

- Mas é fantástica a habilidade com que ele trocou a nota! Ele quase nem se virou, logo voltou para trás e a nota já estava trocada. 

E, ao mesmo tempo que exemplificava um empalme foleiro da nota dobrada, rematou: 

- Se calhar escondeu-a, assim, na mão. 

De imediato, um dos seus interlocutores sentenciou: 

- É como um ilusionista. É como o Luís de Matos. 

Acreditem que esta afirmação me entristeceu bastante mais do que o eclipse dos bolinhos de bacalhau com arroz de feijão, mas, infelizmente, a nossa Arte continua a ser objecto deste tipo de associação de ideias... E parece-me que tal só acontece com o Ilusionismo... Pelo menos, eu nunca ouvi ninguém dizer (para comentar um homicídio cometido com arma branca): - Pela precisão do corte parecia mesmo um médico cirurgião de bisturi em riste. 

Triste sina, a dos mágicos: ser bitola de comparação com conotações bastante negativas. Quando conseguiremos alterar esta situação? 

5 de Dezembro, 14 horas e 15 minutos. 

Saio do snack bar após pagar a conta, sem burlar o sr. Jorge, triste por não ter podido comer bolinhos de bacalhau com arroz de feijão. Por isso e não só... 

P.S.: Para permitir a alguns leitores uma total compreensão do texto, informo que, em dialecto alfacinha, diz-se "pastéis de bacalhau" em vez de "bolinhos de bacalhau"...


DRAGÕES DESILUDIDOS... PERDÃO, DESILUSIONADOS!


O passado mês de Novembro trouxe à Magia alguma visibilidade e destaque em meios de comunicação social onde, escassas vezes, haverá razões para ser citada. Já entenderam que me estou a referir aos media ligados ao fenómeno desportivo e à escolha de um espectáculo mágico (protagonizado por Luís de Matos) para integrar a inauguração do Estádio do Dragão. 

Devido a compromissos do foro mágico assumidos anteriormente não me foi possível estar presente nesse evento, situação que correspondia desde logo, à partida, a uma dupla tristeza (a do mágico e a do portista). Tive portanto apenas oportunidade de ver a gravação do que a RTP transmitiu. 

Quando foi anunciado o efeito da previsão do resultado do jogo, tive, imediatamente, a sensação de dejá vu. E, simultaneamente, a sensação de um anti-climax relativamente à previsão do totoloto. Na realidade, um espectador leigo, mas de raciocínio lógico-matemático medianamente desenvolvido, chegará à conclusão que é muito mais fácil prever o resultado de um jogo de futebol do que uma chave de totoloto. De facto, se considerarmos que, num jogo entre Porto e Barcelona, cada uma das equipas conseguirá marcar, no máximo, 6 golos (o que pessoalmente já acho que é um exagero), o universo possível de resultados distintos será limitado a 49 possibilidades, infinitamente menor que o número gigantesco que corresponde a combinações de 49 elementos, 7 a 7. Mas, mesmo assim, tal previsão foi o que mais terá ilusionado as pessoas e os jornalistas. Visto pela televisão também não teve as características de permanente controle da caixa da previsão que colocaram a «operação totoloto» num outro nível de impossibilidade. 

A fazer fé nas descrições e conclusões de algumas pessoas conhecidas (leigas sob o ponto de vista mágico) que estiveram presentes no estádio, as ilusões do desaparecimento de Luís de Matos de uma caixa suspensa e do aparecimento da equipa do F. C. Porto não os enganaram, o que me deixou triste. Para completar tal estado de espírito, no dia seguinte ao evento, antes de ter visto a gravação televisiva e estando a almoçar num snack-bar portuense, fiquei a saber o processo utilizado para fazer aparecer a equipa portista em cima de um estrado. Foi dito, em voz alta, por quem tinha assistido ao vivo. Dias mais tarde vi a mesma descrição feita numa notícia de jornal, tendo o jornalista revelado que confirmara tal dedução com um dos jogadores que participara na ilusão… 

Será que… ilusões que não ilusionam são Magia?


quarta-feira, dezembro 03, 2003

Chegou o ILUSORIUM


E perguntarão os poucos que ainda não o conhecem: o que é o ILUSORIUM? 


O ILUSORIUM é o novo portal português de MAGIA, que acaba de nascer pela vontade de 3 mágicos portugueses (o VLAD, o RUI MORGADO e eu), mas que foi, desde a primeira hora, apoiado por muitos outros. 

O neófito (ainda só tem 3 dias, portanto, só gatinha...) será, a partir de agora, o porto de abrigo destas palavras que vou alinhavando, mas isso não impede que vá manter este blog, seja com reproduções a posteriori de alguns textos já publicados, seja com a publicação de textos inéditos que, eventualmente, não se enquadrem no referido projecto. 

Entretanto, se visitarem o portal em www.ilusorium.com poderão ler, na coluna NOVAMAGIA, a crónica «Dragões desiludidos… perdão, desilusionados!»